
Não é sobre a chupeta. É sobre o que ela representa.
A recente “tendência” de adultos usando chupeta para aliviar a ansiedade é apenas a ponta de um iceberg muito mais profundo: a infantilização da vida adulta.
Enquanto crianças são empurradas precocemente para um universo adulto, sexualizadas em redes sociais, expostas a discussões sobre relacionamentos, pressionadas a opinar sobre política e a lidar com expectativas emocionais que não cabem na idade delas, adultos, por outro lado, buscam refúgio em comportamentos regressivos, símbolos da infância e práticas que evitam encarar a realidade.
Não se trata de “cada um com suas manias”. Vemos um padrão preocupante aqui:
A fuga da responsabilidade. Assumir o papel de adulto implica em decisões, frustrações e tolerância à incerteza. Regredir a comportamentos infantis é uma maneira de adiar o inevitável.
Buscar conforto imediato em vez de cultivar autorregulação emocional madura, recorrer a objetos e hábitos que oferecem alívio rápido e simbólico já é uma marca desta geração.
Erosão de papéis sociais: quando as fronteiras entre infância e vida adulta se desfocam, perde-se a noção de etapas de desenvolvimento, e a cultura passa a celebrar a imaturidade como “estilo de vida”.
Na psicanálise, a regressão é um mecanismo de defesa que, em alguns contextos, pode ser temporariamente útil. Mas, quando se torna um modo crônico de estar no mundo, indica estagnação emocional. Em termos sociológicos, é sintoma de uma geração que se sente sobrecarregada, mas que também não foi treinada a suportar desconforto sem anestesias instantâneas.
O problema vai além de modas esdrúxulas. Uma sociedade que foge da maturidade e evita crescer perde sua capacidade de sustentar valores, assumir compromissos e enfrentar crises com resiliência.
Se a vida adulta for constantemente terceirizada para mecanismos infantis, estamos entregando o volante da cultura a quem prefere permanecer no banco de trás, olhando o mundo pela janela com uma chupeta na boca.
E, no fim, não é a chupeta que assusta. É o que estamos dispostos a perder para não encarar o peso de ser adulto. A responsabilidade da adultez tem assustado muita gente que insiste, veementemente, em ficar no mundo do Peter Pan. Será essa a geração final? Se você tem medo de adultos fortes, não sabe o que adultos fracos são capazes de fazer.