Projeto eleva faixa de isenção para R$ 2.428,80 e integra estratégia do governo para ampliar benefício a quem ganha até R$ 5 mil mensais
A Câmara dos Deputados deu aval simbólico, nesta quarta-feira (25), ao projeto que altera os valores da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). A proposta eleva o teto da faixa de isenção, que passa de R$ 2.259,20 para R$ 2.428,80. O texto segue agora para análise do Senado.
O relator da matéria foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que apresentou um substitutivo ao projeto original — de autoria do deputado José Guimarães (PT-CE), líder do governo na Casa. A medida, segundo Lira, integra um pacote mais amplo articulado pelo Planalto, voltado a promover a isenção do imposto para trabalhadores com renda mensal de até R$ 5 mil.
“Estamos avançando na direção de um sistema mais justo, em que quem ganha menos não seja penalizado com a mesma carga tributária daqueles que estão no topo da pirâmide”, disse Lira ao justificar a urgência da votação.
A proposta em debate nasce da Medida Provisória editada pelo governo federal em abril, que já havia promovido alterações na tabela do IR a partir de maio. Apesar da aplicação imediata, a MP tinha caráter provisório, o que exigia sua conversão em lei no Congresso para manter os efeitos.
José Guimarães, que vem conduzindo as negociações com a base aliada e a oposição, afirmou que a aprovação é parte de um compromisso assumido pelo presidente Lula.
“O que estamos fazendo aqui é reconhecer que a tabela do Imposto de Renda estava congelada havia anos, enquanto o custo de vida aumentava. É um passo na correção dessa distorção”, afirmou o parlamentar cearense.
A votação, feita de maneira simbólica, indica acordo prévio entre os partidos e deve facilitar a tramitação da matéria no Senado. A expectativa do governo é que o projeto seja aprovado sem alterações e sancionado ainda neste semestre.
Por trás da mudança, está uma movimentação política estratégica. A elevação do limite de isenção impacta diretamente a classe trabalhadora de renda mais baixa e média — parcela do eleitorado com peso decisivo nas urnas e hoje bastante sensível ao avanço da carga tributária.
Ao mesmo tempo, a medida abre caminho para a tão prometida reforma tributária sobre a renda, cuja discussão tem sido adiada diante das dificuldades em costurar consenso no Congresso.
A equipe econômica acompanha de perto o impacto fiscal da ampliação da isenção, mas aposta na arrecadação crescente com a reoneração de outros setores e no equilíbrio a médio prazo.
Para o governo, trata-se de um jogo de tabuleiro complexo: aliviar a pressão sobre os assalariados sem comprometer a meta fiscal, numa equação que depende de articulação política afinada e discurso coeso.
Nos bastidores, o recado é claro: a correção da tabela não é o fim do caminho, mas um aceno a quem sustenta o país com seu trabalho e, até aqui, vinha pagando caro por isso.