Documentos tratam de tarifas, suspensão de vistos e sanções contra Alexandre de Moraes; parte foi colocada sob sigilo depois de pedidos via Lei de Acesso
O Ministério das Relações Exteriores decidiu blindar dezenas de telegramas enviados pela embaixada brasileira em Washington em meio à fase mais delicada da relação entre Brasil e Estados Unidos nos últimos anos. As mensagens cobrem desde a ofensiva comercial de Donald Trump até a suspensão de vistos de autoridades brasileiras e as sanções impostas ao ministro Alexandre de Moraes.
Foram nove documentos classificados como secretos, que só poderão ser conhecidos daqui a 15 anos, e outros 14 marcados como reservados, com acesso limitado por cinco anos. Todos amparados na brecha do artigo 23 da Lei de Acesso à Informação (LAI), que permite sigilo quando há risco para negociações diplomáticas.
Os títulos de cada telegrama, no entanto, já revelam muito: falam de tarifas aplicadas pelo governo Trump, do congelamento de vistos, de ações judiciais contra Moraes nos EUA e até de um tema descrito pelo Itamaraty como “repressão transnacional”.
Dois deles, enviados em 26 de junho de 2024, abordam justamente esse ponto. Naquela data, o deputado republicano Chris Smith enviou carta ao secretário de Estado, Marco Rubio, pedindo sanções contra Moraes. Pouco depois, em julho, o governo Trump suspendeu os vistos do ministro, de outros sete integrantes do STF e do procurador-geral Paulo Gonet. No fim do mês, a medida ganhou força com sanções financeiras da Secretaria do Tesouro, amparadas na Lei Magnitsky.
Outros telegramas tratam de reuniões com assessores do Congresso americano, do comércio bilateral e até do combate ao crime organizado. Parte deles foi reclassificada como secreta apenas depois que o jornal O Estado de S. Paulo pediu acesso.
Dois documentos chamam atenção por terem recebido a chancela direta do ministro Mauro Vieira. Um deles, de setembro de 2024, foi tornado secreto em novembro, já após a vitória de Trump. O outro, de maio deste ano, fala de cooperação contra o tráfico.
Os pedidos de informação feitos pelo Estadão incluíam termos como STF, Moraes, Bolsonaro, tarifas e lobby de Eduardo Bolsonaro em Washington. Entre os trechos liberados, surgem apenas relatos de viagens oficiais do deputado e registros de congressistas republicanos defendendo sanções contra Moraes.
Até agora, o Itamaraty não deu qualquer resposta sobre os telegramas sob sigilo.