Fernanda Torres conta bastidores de “Ainda Estou Aqui”

Alile Dara Onawale

Fernanda Montenegro conta como foi a preparação mental e física, que envolveu a perda de quase 10 kg, para viver Eunice em “Ainda Estou Aqui”

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“Ela é uma heroína que o Brasil merece conhecer”, diz Fernanda Torres sobre Eunice Paiva, vivida por ela no filme “Ainda Estou Aqui”. Dirigido por Walter Salles e baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, o longa acompanha a história de uma dona de casa, mãe de cinco filhos na década de 1970, que se transforma em uma grande ativista após o assassinato do marido (e pai do autor) durante a Ditadura Militar no Brasil. “Embora seja uma história trágica, o filme tem uma mensagem de resistência e de reinvenção dessa família e dessa mulher.”

Antes mesmo da sua estreia nos cinemas brasileiros, que acontece nesta quinta-feira (7), o longa ganhou os holofotes internacionalmente e conquistou grandes prêmios. “É uma alegria poder fazer algo que se comunica com as pessoas independentemente da nacionalidade, da língua ou da cultura”, diz a atriz de 59 anos. O filme venceu na categoria “Melhor Roteiro” no Festival de Veneza, após ser ovacionado em sua exibição e aplaudido por dez minutos, levou o “Prêmio do Público” do Festival Internacional de Cinema de Vancouver, com mais de 40 mil votos, e ganhou uma estatueta no Critics Choice Awards pela atuação de Fernanda Torres, entre outras vitórias.

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Rumo ao Oscar

Após a grande repercussão nos festivais de cinema ao redor do mundo, “Ainda Estou Aqui” está em campanha para conquistar uma indicação ao Oscar de “Melhor Filme Internacional”. “As chances de conseguirmos uma indicação nessa categoria são muito grandes.”

A atriz também está cotada para concorrer como “Melhor Atriz”, seguindo os passos de sua mãe, Fernanda Montenegro – única brasileira indicada à premiação, em 1999. A veterana concorreu ao maior prêmio do cinema por seu trabalho no aclamado filme “Central do Brasil”, também dirigido por Walter Salles.

Fernanda Torres ainda não tem grandes expectativas quanto à possível indicação e destaca a concorrência. “Há um certo engarrafamento no quesito de papéis femininos, então não sei se chego. Mas só de estar em todas as shortlists é incrível, o que vier é lucro.”

A artista, conhecida por seu trabalho em comédias como “Os Normais” e “Tapas e Beijos”, sequer imaginava que mergulharia em uma papel tão denso pouco antes de ser convidada. “Quando soube do filme, já era mais velha do que a Eunice e estava trabalhando com humor há muito tempo. Nunca pensei que o Walter me visse no papel.”

Depois de aceitar o convite, a atriz se dedicou a uma preparação física e mental intensa, que envolveu a perda de quase 10 kg para interpretar o papel. O principal desafio, no entanto, foi equilibrar as dualidades da personagem: “A parte mais difícil foi encontrar o registro daquela mulher extremamente forte e feminina, corajosa e frágil.”

As filmagens começaram em junho de 2023 e, depois de mais de um ano, Fernanda ainda vive a personagem no “segundo ato” do longa: a campanha de lançamento. “Só a partir de março do ano que vem eu volto à minha vida e a Eunice me devolve a minha encarnação.”

Abaixo, Fernanda Torres conta como foi o processo para viver a personagem, compartilha as lições de carreira dos pais e reflete sobre o significado do sucesso.

Forbes: O filme já rodou o mundo e agora finalmente chega ao Brasil. Como estão as expectativas para a recepção do público?

Fernanda Torres: Estou muito feliz de chegar aos cinemas. Espero que as pessoas estejam com certa urgência de ver o filme e não esperem a hora de ver na televisão em casa. Quero que o longa se transforme em algo social, em um filme que você vai ver e depois conversar em um restaurante ou que vira assunto de roda na praia.

É um longa que vale a pena. Ele fala de tantas coisas, é tão bonito e tão comovente. Embora seja uma história trágica, você não sai do filme com um sentimento depressivo. Pelo contrário, ele tem uma mensagem de resistência e de reinvenção dessa mulher e dessa família.

Como o papel de Eunice chegou na sua vida? Já previa que ia ser esse sucesso?

Tudo que eu fiz que nasceu para arrebentar foi um fracasso. Geralmente o que você faz humildemente em um canto é o que faz sucesso. Foi uma surpresa o Walter ter me chamado para o papel, porque ele deu o roteiro para eu ler e dizer o que eu achava uns sete meses antes de me chamar. Eu já era mais velha do que a Eunice e estava trabalhando com comédia há muito tempo, então não achei que o Walter me visse no papel.

Fiquei muito surpresa e lisonjeada quando ele me chamou. Fui trabalhar pesado e foi um ano maravilhoso de processo entre filmagem e preparação. Todos os atores estão nesse registro realista e raro de se obter. Normalmente, a gente sempre filma com muita pressa, então tudo ganha um tom meio urgente, mas nesse filme isso não aconteceu. Tivemos tempo para filmar e o longa era muito importante para o Walter, porque ele esteve naquela casa e era amigo daquela família.

Alile Dara Onawale

“Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, é cotado para representar o Brasil no Oscar

Eu nunca imaginei viver um processo assim. Achei que o filme tinha acabado, mas esse ano foi estranho, porque eu fui trabalhar e voltei com a peça “A Casa dos Budas Ditosos”, mas nesse segundo semestre ainda estou toda na Eunice. Agora é o segundo ato com todo esse lançamento. A partir de março do ano que vem eu volto à minha vida e a Eunice me devolve a minha encarnação.

Você precisou emagrecer quase 10 kg para o filme. Como foi a preparação física para encarnar a Eunice?

Ela era uma mulher obcecada por magreza e ainda perde 10 kg na prisão. Então eu tive que ir secando. Fui para uma nutricionista que cortou alimentos. Eu já não peco, daí os meus poucos pecados ela cortou. Queria matá-la, ficava irritada e dizia: “Mas como assim, o meu azeite de oliva?” [risos].

“Ainda Estou Aqui” tem cenas muito intensas e sensíveis. Quais foram os maiores desafios em dar vida à sua personagem?

O desafio foi encontrar o registro daquela mulher extremamente forte e feminina, corajosa e frágil. Ela tem essa dualidade difícil de medir. Ao mesmo tempo que é uma dona de casa, a Eunice já é aquela advogada que ela se torna depois. A parte mais difícil foi medir entre força e fragilidade, entre feminilidade e ao mesmo tempo dureza.

O que enxerga da personagem em você mesma?

Sinto que eu tenho esse sentido de maternidade que ela tem, e essa veia meio CDF e primeira da turma, uma certa inteligência feminina. Tem coisas dela que eu entendo muito e outras que eu tive que buscar, principalmente no sentido da feminilidade, porque eu sou mais bruta do que ela.

Como você acredita que a força da Eunice vai ressoar entre as mulheres brasileiras?

Ela é uma heroína brasileira que o Brasil merece conhecer. Entre outras coisas incríveis, ela jamais teve a necessidade de se fazer reconhecer. Ela passou de viúva do Rubens Paiva para mãe do Marcelo Paiva e nunca quis aparecer. Todas as vitórias dela foram no âmbito da lei, muito mais do que reconhecimento público. O livro e o filme, de certa forma, apresentam ao país essa brasileira extraordinária.

As mulheres vão se reconhecer muito tanto na dona de casa quanto na mãe, advogada, esposa e todas essas pessoas. São muitos lados do feminino. Também nas adversidades da vida que as mulheres não têm como sentar e ficar chorando, porque normalmente são mães. Como mãe, você aguenta firme e segue em frente. Isso ela tem muito forte.

Além de toda a repercussão internacional, o filme e a sua atuação estão sendo cotados para o Oscar. O que esse reconhecimento significa para você?

É uma alegria poder fazer algo que se comunica com as pessoas independentemente da nacionalidade, da língua ou da cultura. O Walter realmente fez um filme universal, que bate em lugares de uma história brasileira, mas aborda questões que todo mundo se conecta. É um filme sobre o fim da inocência e de como a gente se reinventa depois do nosso mundo acabar, e isso é muito atual.

No Oscar, acredito que as chances de conseguirmos uma indicação na categoria de Melhor Filme Internacional são muito grandes. Quanto a Melhor Atriz, é um ano muito forte de atuações extraordinárias. Fui ver o filme “Anora”, com a Mikey Madison, e achei maravilhoso. Tem a Tilda Swinton, a Marianne Jean-Baptiste, a Nicole Kidman, a Angelina Jolie, a Saoirse Ronan, então há um certo engarrafamento no quesito de papéis femininos. Não sei se eu chego lá. Mas só de estar em todas as shortlists é incrível. Estou tão feliz pelo filme que o que vier é lucro.

Como avalia sua trajetória até aqui e esse seu momento na atuação?

Você vive dos papéis que vai fazendo na vida. Às vezes, você acerta, outras, erra. Mas são as escolhas que você vai fazendo que vão definindo quem você é. Nada garante. Vou sair desse filme e não sei se vou fazer teatro ou outro longa, ou se vou escrever. Não existe um ponto fixo em que estou da minha carreira.

O filme é um registro que eu nunca trabalhei antes e que nem sei se vou voltar a trabalhar depois. É uma realidade de sutileza na atuação que talvez nunca mais me aconteça.

O significado de sucesso mudou pra você com o passar dos anos?

Sempre tive essa visão. Não fico medindo em que grau de sucesso eu cheguei. Desde muito cedo, eu saquei que não existe garantia de nada com o lugar que você atinge. Tive isso dos meus pais: o que importa é o ofício mesmo.

Você cresceu com dois artistas bem-sucedidos dentro de casa. Como eles influenciaram sua carreira e moldaram sua maneira de enxergar seu trabalho?

Meus pais sempre me deram uma noção de independência na profissão. Desde que eu nasci, vi eles produzindo suas próprias peças. Isso permitiu aos dois escolherem seus trabalhos. Eles faziam TV e cinema, mas a base deles era a produção independente com o teatro. Meus pais me passaram isso por osmose. Eu produzi minhas peças, fui escrever roteiros, sempre procurei ter projetos meus e não fiquei esperando convites. O convite é algo que acontece por sorte, mas você tem que ser capaz de apontar caminhos para você mesmo. Aprendi isso com eles.

Como artista, como você enxerga o cenário atual?

Não temos mais blocos monolíticos com o cinema, a TV e o teatro. É uma quantidade de janelas tão grandes que você tem que ser capaz de existir em muitos lugares e de se comunicar de muitas maneiras. Hoje, mais do que nunca, uma certa flexibilidade, agilidade e capacidade de ocupar espaços diferentes ajudam um artista a existir e sobreviver.

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A Secretaria da Justiça (Sejus) adquiriu dez drones de última geração para ampliar o monitoramento e o apoio operacional nas unidades prisionais do Espírito Santo. Os equipamentos foram adquiridos por meio do Programa de Ampliação e Modernização do Sistema Prisional (Moderniza-ES), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e vão desempenhar um papel estratégico no fortalecimento das ações da Polícia Penal do Estado, oferecendo uma visão aérea que ampliará a eficiência em operações e treinamentos.

Com o investimento da ordem de R$ 586 mil, os equipamentos com tecnologia de ponta vão ajudar a ampliar a eficiência da segurança, monitoramento, fiscalização e apoio logístico nas unidades prisionais. As aeronaves permitem vigilância aérea eficaz, com capacidade de cobrir áreas restritas e de difícil acesso, proporcionando maior agilidade e precisão nas operações de vigilância e monitoramento dos perímetros das unidades penitenciárias e eventuais ações de recaptura.

O secretário de Estado da Justiça, Rafael Pacheco, destacou que o investimento representa um passo importante na modernização e eficiência das ações da Polícia Penal no Estado.   “Estamos investindo em tecnologia de ponta para fortalecer o trabalho da Polícia Penal e otimizar as ações de segurança e inteligência prisional. Por meio do Moderniza-ES, seguimos ampliando e modernizando os serviços e projetos do sistema prisional capixaba. Essas iniciativas aumentam nosso poder de gestão e contribuem diretamente para a redução da violência no Espírito Santo”, ressaltou Rafael Pacheco.

Capacitação

Para capacitar os operadores dos novos drones, a Academia da Polícia Penal (Acadeppen) iniciou neste mês mais um treinamento voltado para a formação continuada de pilotos do equipamento. Ao todo, 46 policiais penais recebem capacitação técnica.

Com os equipamentos, modelo Matrice 30T, será possível ampliar as ações operacionais e de inteligência no sistema prisional, como o monitoramento das saídas e entradas dos custodiados nas unidades prisionais, o acompanhamento aéreo dos locais de banho de sol, bem como reforçar o trabalho realizado pelo serviço de inteligência prisional.

Os novos drones têm câmera térmica capaz de visualizar e medir a radiação infravermelha, emitida por corpos ou objetos, convertendo-a em imagens com cores que indicam diferentes temperaturas, recurso que auxilia o operador de segurança também nas missões noturnas.

O equipamento tem autonomia de voo de 41 minutos, com uma distância de transmissão de 15 quilômetros, além de sistema de detecção de obstáculos capaz de auxiliar o piloto na navegação. Além disso, tem quatro câmeras com diferentes tecnologias de zoom e captura de imagem.

A Câmara dos Deputados decidiu nesta quarta-feira (15) suspender a ação penal que corria no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado Gustavo Gayer (PL-GO). O pedido partiu do próprio PL e foi aprovado por 268 votos a favor, 167 contrários e quatro abstenções.

A decisão, oficializada pela Resolução nº 30/25, será comunicada ao Supremo. O parecer do relator, deputado Zé Haroldo Cathedral (PSD-RR), já havia recebido aval da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e acabou mantido pelo plenário.

O processo contra Gayer foi movido pelo senador licenciado Vanderlan Cardoso (GO), que o acusa de injúria, calúnia e difamação. A ação tem como origem um vídeo publicado nas redes sociais, em fevereiro de 2023, no qual o deputado criticava o resultado da eleição para a Mesa do Senado e fez comentários sobre o próprio Vanderlan e o STF.

O caso está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes e se encontra na fase final das alegações.

Em seu relatório, Cathedral afirmou não ver elementos que sustentem as acusações de calúnia e difamação, acompanhando as conclusões da Polícia Federal.

“Subscrevemos as conclusões da Polícia Federal e concluímos que o mais adequado seria o não recebimento da queixa-crime relativamente a esses crimes”, disse o relator.

Ele reconheceu, porém, que as falas de Gayer poderiam ser interpretadas como injúria, mas ponderou que é preciso levar em conta se a manifestação estava amparada pela inviolabilidade parlamentar prevista na Constituição.

Pelas regras constitucionais, a Câmara tem até 45 dias para decidir se autoriza o andamento da ação ou se a suspende enquanto durar o mandato. Durante esse período, o prazo de prescrição fica interrompido.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta quarta-feira (15) que autorizou a CIA a conduzir operações secretas na Venezuela com o objetivo de enfraquecer, e, em última instância, derrubar, o presidente Nicolás Maduro. A decisão marca uma escalada clara na política norte-americana contra Caracas e já provoca repercussão internacional.

Segundo fontes ouvidas pela imprensa, a autorização faz parte de um conjunto de medidas que inclui pressão militar na região e ações de inteligência para desarticular redes de tráfico e, possivelmente, capturar líderes venezuelanos. As alternativas avaliadas vão desde operações encobertas até ações terrestres limitadas, planejadas para pressionar o regime sem uma invasão em larga escala.

A Casa Branca justificou a medida com dois objetivos práticos: conter o fluxo de drogas provenientes da Venezuela e reagir a episódios recentes de prisioneiros que, segundo o governo americano, cruzaram a fronteira para os EUA. O movimento ocorre enquanto a presença militar norte-americana no sul do Caribe se mantém visível, incluindo ataques a embarcações suspeitas de tráfico, gerando debates sobre legalidade e transparência.

Fontes afirmam que a autorização dá à CIA liberdade para atuar sozinha ou em conjunto com forças militares, coordenada pelo Estado-Maior Conjunto. Entre os defensores da ação estão membros da ala mais dura do governo e o secretário de Estado, Marco Rubio. Detalhes operacionais, no entanto, permanecem em sigilo, alimentando críticas no Congresso sobre supervisão e prestação de contas.

A reação internacional foi imediata. Caracas classificou a medida como uma agressão direta à soberania venezuelana, mobilizando tropas e milícias, enquanto analistas e governos da região passam a avaliar os riscos de uma escalada militar e os possíveis impactos humanitários de uma operação que combina ações encobertas, pressão política e presença naval.

A confirmação pública de Trump, incomum para operações secretas, muda a dinâmica política: abre debates sobre limites legais, supervisão do Congresso e os riscos de um conflito regional. Mais do que uma ação isolada, a medida sinaliza que os EUA estão dispostos a usar ferramentas não convencionais para atingir objetivos de política externa, com efeitos incertos para a estabilidade hemisférica.

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