Influenciadoras, empresários e operadores do mercado de apostas digitais são acusados de integrar um esquema que envolve jogo ilegal, contratos escusos e prejuízo aos consumidores
A senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), relatora da CPI das Apostas Esportivas — apelidada de CPI das Bets —, apresentou nesta terça-feira (10) o relatório final da comissão com pedidos de indiciamento contra 16 pessoas. A lista inclui influenciadores famosos como Virgínia Fonseca e Deolane Bezerra, empresários ligados a plataformas de apostas e operadores suspeitos de movimentações financeiras atípicas.
Entre os crimes apontados estão estelionato, lavagem de dinheiro, falso testemunho, publicidade enganosa e exploração de jogos de azar. O relatório será encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF), que poderá dar início a investigações criminais formais com base nas evidências reunidas pela comissão.
Apesar do encerramento formal dos trabalhos, a CPI chegou à reta final esvaziada. Faltaram quórum, engajamento dos parlamentares e foco. A sessão desta terça teve cadeiras vazias no plenário e clima protocolar.
A crítica de Motta foi direta: o julgamento ocorreu em ambiente virtual e sem a participação do plenário completo da Corte, o que, segundo ele, fere o equilíbrio entre os poderes.
“Não acho razoável que a decisão de um Poder seja desfeita por uma parte do outro Poder, numa sessão virtual. Eu acho que o razoável é o plenário do Supremo Tribunal Federal decidir sobre o assunto”, disse o parlamentar.
Durante as oitivas, uma testemunha acusada de ser laranja no esquema foi presa em flagrante por falso testemunho. A detenção, no entanto, foi relaxada ainda no mesmo dia. A CPI também tentou dar visibilidade ao convocar figuras populares da internet — sem grande efeito prático. Os depoimentos de Virgínia Fonseca e Deolane, por exemplo, acabaram servindo mais como combustível para críticas à condução dos trabalhos do que como material para avanço da investigação.
O relatório afirma que Virgínia promoveu casas de apostas por meio de contas-demo, simulando ganhos irreais para os seguidores. Segundo o documento, ela foi contratada pela empresa Esportes da Sorte em um modelo de remuneração que variava conforme o lucro líquido da plataforma gerado por seus seguidores — ou seja, quanto mais os apostadores perdiam, mais ela lucrava.
Já Deolane Bezerra foi apontada como sócia da empresa Zeroumbet e responsável por divulgar conteúdos relacionados ao jogo ilegal. Também foram identificadas transações de valores elevados sem origem comprovada, indícios de lavagem de dinheiro e associação criminosa.
A seguir, os nomes incluídos no relatório, com os respectivos crimes atribuídos:
1. Adélia de Jesus Soares – Lavagem de dinheiro e organização criminosa
2. Daniel Pardim Tavares Gonçalves – Falso testemunho, lavagem de dinheiro e organização criminosa
3. Deolane Bezerra dos Santos – Jogo ilegal, estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa
4. Ana Beatriz Scipiao Barros – Jogo ilegal, estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa
5. Jair Machado Junior – Jogo ilegal, estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa
6. José Daniel Carvalho Saturnino – Jogo ilegal, estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa
7. Leila Pardim Tavares Lima – Jogo ilegal, estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa
8. Marcella Ferraz de Oliveira – Jogo ilegal, estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa
9. Virgínia Fonseca Serrão Costa – Publicidade enganosa e estelionato
10. Pâmela de Souza Drudi – Publicidade enganosa e estelionato
11. Erlan Ribeiro Lima Oliveira – Lavagem de dinheiro e associação criminosa
12. Fernando Oliveira Lima (Fernandin OIG) – Lavagem de dinheiro e associação criminosa
13. Toni Macedo da Silveira Rodrigues – Lavagem de dinheiro e associação criminosa
14. Marcus Vinicius de Lima e Silva – Lavagem de dinheiro, organização criminosa, corrupção ativa e tráfico de influência
15. Jorge Barbosa Dias – Lavagem de dinheiro
16. Bruno Viana Rodrigues – Lavagem de dinheiro, organização criminosa e jogo ilegal
Apesar das acusações, o relatório ainda precisará ser avaliado por órgãos externos para que as apurações avancem. O trabalho da CPI termina oficialmente com o envio da documentação, mas seu legado político — ou a ausência dele — será medido nos próximos meses, à medida que o Ministério Público e a Justiça decidirem se haverá ou não denúncia formal contra os envolvidos.