
Hoje é Dia do Psicólogo. Uma data que, em um país que insiste em romantizar o sofrimento e medicalizar qualquer desconforto, deveria ser de celebração, mas acaba sendo quase um lembrete: sim, saúde mental existe, e sim, precisa ser cuidada.
O psicólogo é o profissional que transita entre a ciência e a humanidade. Nossa função não é dar “conselho de amigo”, nem “puxar papo de café”. Trabalhamos com evidências, com técnicas, com teorias que foram construídas e testadas ao longo de décadas. Somos a peça que muitas vezes impede que a dor silenciosa se transforme em tragédia.
Na neuropsicologia, a coisa fica ainda mais clara: avaliamos funções cognitivas, memória, atenção, linguagem. Traduzindo: entendemos como o cérebro, essa máquina complexa e maravilhosa, funciona quando tudo vai bem, e quando dá pane. Sem esse olhar, diagnósticos seriam incompletos, tratamentos seriam ineficazes, famílias viveriam no escuro.
Mas apesar de tudo isso, quantas vezes ouvimos:
“Ah, mas psicólogo é só pra quem tá louco.”
“Mas eu já converso com meus amigos, não preciso de terapia.”
Ou ainda o clássico:
“Psicólogo não resolve nada, é só enrolação.”
Deixe-me ser clara: psicologia não é luxo, não é frescura e não é opcional. É saúde. Assim como você vai ao cardiologista para cuidar do coração ou ao ortopedista quando quebra uma perna, o psicólogo existe para cuidar da sua mente e das suas relações.
E vou além: em um mundo adoecido por pressa, produtividade tóxica e relações superficiais, o psicólogo é quase um ato de resistência. Resistência ao vazio, ao descaso e ao adoecimento silencioso.
Hoje, mais do que flores e parabéns, nós psicólogos merecemos algo simples: respeito à nossa ciência e reconhecimento do nosso papel social. Porque, gostem ou não, a verdade é que sem psicologia não há saúde completa, há só sobrevivência.
E sobreviver, convenhamos, é muito pouco para quem nasceu para viver plenamente.