De janeiro a julho deste ano, a SaferNet recebeu 49.336 denúncias anônimas de abuso e exploração sexual infantil na internet. O número impressiona: é quase 19% maior do que o registrado no mesmo período de 2024 e corresponde a quase dois terços de todos os crimes virtuais relatados à entidade no período.
Um dos pontos que mais preocupa é a entrada da inteligência artificial nesse tipo de crime. Segundo o levantamento, cresce o uso de programas capazes de manipular fotografias reais, criar deepfakes e até gerar imagens artificiais hiper-realistas de crianças em situações de abuso.
“A proliferação de aplicativos de IA generativa permite que se pegue a foto de uma pessoa vestida e se tire a roupa daquela pessoa”, disse Thiago Tavares, fundador e presidente da SaferNet Brasil. Ele lembrou que, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a manipulação de imagens também é crime.
Para entender melhor o alcance desse problema, a SaferNet abriu uma chamada pública destinada a adolescentes que tenham sido vítimas da criação de imagens falsas com uso de inteligência artificial. A proposta é ouvir relatos, reunir provas e pensar em novas formas de proteção.
A força de uma denúncia pública
O aumento das notificações ganhou ainda mais fôlego depois que o influenciador Felca publicou um vídeo denunciando perfis que incentivam a “adultização” infantil. A reação foi imediata: em menos de duas semanas, entre os dias 6 e 18 de agosto, mais de 6,2 mil denúncias chegaram à plataforma, e mais da metade delas foi registrada após a viralização do vídeo.
O impacto também chegou ao Congresso. A Câmara dos Deputados colocou em discussão o Projeto de Lei nº 2.628/2022, que obriga plataformas digitais a criarem mecanismos para impedir que crianças e adolescentes tenham acesso a conteúdos ilegais ou inadequados para a idade.
Onde denunciar
Casos de abuso e exploração sexual infantil na internet podem ser denunciados à Central Nacional de Denúncias da SaferNet Brasil, que atua em parceria com o Ministério Público Federal. Já situações de violência sexual fora do ambiente digital devem ser comunicadas ao Disque 100.