O Brasil chega ao segundo semestre de 2024 com um quadro preocupante: 94 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos registradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), a principal porta de acesso a benefícios federais. O número equivale a 44% da população total, aproximadamente a população do Egito, e revela que sete em cada dez brasileiros em idade produtiva dependem de algum programa social.
Para o governo, os programas são ferramentas de inclusão; para críticos, refletem uma dependência que pode se tornar crônica. Mais da metade dos beneficiários (57%) está vinculada ao Bolsa Família, que atende 20,7 milhões de famílias, cerca de 54,5 milhões de pessoas, incluindo crianças e adolescentes. O investimento federal ultrapassa R$ 14 bilhões por mês, com valor médio de R$ 684 por família, acrescido de adicionais para gestantes, jovens e crianças pequenas.
No total, os programas sociais custam cerca de meio trilhão de reais por ano, financiados majoritariamente por impostos. O ministro Wellington Dias defende: “Esses recursos são essenciais para combater a fome e garantir dignidade.”
Mas especialistas alertam para os riscos. Marcelo Neri, da FGV, aponta: “Sem saídas reais, como qualificação profissional e empregos de qualidade, os benefícios podem se tornar uma armadilha, limitando o potencial produtivo do país.”
Os dados do CadÚnico, atualizados em agosto, mostram aumento na inclusão, impulsionado pela retomada do Bolsa Família em 2023. Apesar da geração de 1,49 milhão de empregos formais de janeiro a julho de 2024, crescimento de 27% em relação a 2023, 77% dessas vagas foram preenchidas por inscritos no CadÚnico, com salário médio de R$ 2.161, insuficiente para romper o ciclo de dependência.
O Nordeste concentra o maior número de beneficiários (9,38 milhões de famílias), seguido pelo Sudeste, com 6,02 milhões de famílias atendidas.
No debate político, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou: “94 milhões de dependentes é o legado do PT: um Brasil assistencialista que inibe o crescimento. Precisamos gerar riqueza real, não esmolas eternas.” Pesquisas recentes reforçam a narrativa de insatisfação, com eleitores apontando inflação e corrupção como fatores que agravam a vulnerabilidade.
Por outro lado, dados do IBGE mostram avanços: a pobreza caiu de 31,6% para 27,4% e a extrema pobreza de 5,9% para 4,4% entre 2022 e 2023, retirando 8,7 milhões de pessoas da miséria. Sem os programas, esses números teriam aumentado.
Especialistas, como José Ronaldo de Castro Souza Jr., do Ibmec, alertam:
“Um país que depende excessivamente de benefícios está doente.” Ele destaca a necessidade de políticas de qualificação e redução da informalidade, que ainda atinge 40% da força de trabalho. Apesar de pequenas melhorias, a desigualdade permanece elevada, com índice de Gini em 0,49.
O governo anunciou recentemente um pente-fino nos cadastros, que identificou irregularidades em 8,2 milhões de casos no auxílio emergencial anterior.
Os 94 milhões de beneficiários simbolizam a divisão do país: de um lado, a conquista social do governo, que tirou 14 milhões da pobreza em dois anos; de outro, o risco de um assistencialismo que drena recursos e limita crescimento. Analistas alertam que, sem reformas estruturais, o número pode ultrapassar 100 milhões até 2026, pressionando ainda mais o orçamento.
Os dados desta reportagem foram obtidos por meio de informações oficiais do Ministério do Desenvolvimento Social, do IBGE e análises de veículos de cobertura factual.