Idosos eram enganados com promessas de alimentos, medicamentos e vale-gás para que golpistas contratassem empréstimos em seus nomes
Três pessoas foram presas pela Polícia Civil do Espírito Santo acusadas de aplicar um golpe que enganava aposentados e pensionistas, conhecido como “golpe da cesta básica”. Os detidos são Antônio Orlando Lima dos Santos, de 45 anos, Miriam Oliveira Lovate Silva, de 42, e Ricardo Lopes Castelani, de 44 anos.
O esquema começava com uma ligação. Os criminosos anunciavam que o idoso havia sido contemplado com uma cesta básica, medicamentos de uso contínuo ou até um vale-gás. Para ganhar a confiança das vítimas, marcavam uma visita e chegavam levando alimentos ou dinheiro, como se estivessem realmente oferecendo um benefício social.
O cadastro que levava ao golpe
Depois da entrega do suposto benefício, era hora de recolher informações. Os golpistas pediam documentos, fotos e até selfies segurando a identidade. Com esses dados, abriam contas em nome das vítimas, contratavam empréstimos consignados e antecipavam o 13º salário. Em alguns casos, chegavam a abrir novas contas para obter mais crédito. Todos os descontos recaíam sobre aposentadorias e pensões.
As vítimas, todas com mais de 60 anos e renda entre um e dois salários mínimos, só percebiam o prejuízo semanas depois, quando os descontos apareciam nos extratos do INSS.
O delegado Gabriel Monteiro, chefe do Deic, comentou a habilidade dos criminosos em se passar por pessoas confiáveis.
“Em uma das casas, as vítimas chegaram a preparar um café da manhã para recebê-los”, contou.
O delegado Fabiano Alves, da Defa, alertou que o prejuízo cresce com o tempo.
“A cada mês que passa, aumenta o valor descontado das aposentadorias”, disse.
Direitos violados e reparação
O caso reacende a discussão sobre a proteção de idosos contra abusos financeiros. Especialistas lembram que o Estatuto do Idoso prevê medidas de proteção e que os bancos podem ser responsabilizados quando liberam empréstimos sem checagem rigorosa.
“Descontar 30% ou 40% de quem vive com pouco mais de um salário mínimo é uma violação grave de direitos”, afirmou um advogado especialista em direito do consumidor.
Prisões e próximos passos
Os três suspeitos, vindos do Rio de Janeiro, confessaram participação em golpes aplicados entre junho e agosto. Eles também indicaram a existência de um quarto integrante, ainda procurado.
A Polícia Civil alerta que novas vítimas podem surgir, já que muitos descontos ainda não apareceram nos benefícios. Até o momento, nenhuma instituição financeira procurou colaborar com os investigadores. O caso mobiliza órgãos de defesa do idoso e do consumidor, não apenas para punir os criminosos, mas também para garantir reparação às vítimas.