Durante ato na Avenida Paulista, ex-presidente defendeu anistia aos presos do 8 de Janeiro, criticou o Judiciário e pediu maioria no Congresso em 2026 para “mudar o destino do país”
Jair Bolsonaro voltou à Avenida Paulista neste domingo (29) com discurso direto, palavras escolhidas a dedo e recados claros ao eleitorado conservador. Sem mandato e inelegível até 2030, o ex-presidente afirmou que não precisa retornar ao Palácio do Planalto para influenciar os rumos do Brasil — mas que, para isso, precisa da maioria no Congresso.
“Se vocês me derem, por ocasião das eleições do ano que vem, 50% da Câmara e 50% do Senado, eu mudo o destino do Brasil”, disse, ao lado de aliados, ex-ministros e parlamentares que integram a linha de frente do seu grupo político.
A fala não foi isolada. Ao longo do evento, que reuniu milhares de apoiadores sob o mote “Justiça Já”, Bolsonaro reforçou a estratégia de mirar 2026 pela via legislativa. O objetivo declarado é ocupar o coração do Parlamento: as presidências da Câmara e do Senado, o comando das principais comissões e o poder de indicar nomes para agências reguladoras e para o Banco Central.
“Não quero isso para perseguir quem quer que seja. Não quero isso para revanchismo. Quero isso pelo futuro do meu Brasil. Não tenho obsessão pelo poder”, afirmou, numa tentativa de afastar o rótulo de autoritário frequentemente atribuído a ele por adversários.
Apesar de destacar que não precisa de novo mandato presidencial, Bolsonaro reforçou sua influência dentro do Partido Liberal, sob a liderança de Valdemar Costa Neto.
“Digo mais: nem eu preciso ser presidente; o Valdemar Costa Neto, presidente do PL me mantendo como presidente de honra do Partido Liberal, nós faremos isso por vocês”, disse o ex-chefe do Executivo, defendendo que a força do partido é suficiente para redesenhar os caminhos políticos do país.
Ao final do discurso, reforçou:
“Vamos nos preocupar com as eleições do ano que vem, vamos mudar o destino do Brasil”, frisou.
Anistia como caminho para pacificação
No mesmo tom direto, Bolsonaro voltou a defender a anistia aos presos e investigados pelos atos de 8 de janeiro, que culminaram na invasão das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Para ele, a medida está prevista na Constituição e representa um gesto de conciliação, não de omissão.
“Coloquem em liberdade esses inocentes do 8 de Janeiro. Quem porventura quebrou alguma coisa, que pague. Não quero crer que seja vingança de uma pessoa ou de outra”, declarou, cobrando um gesto dos chefes dos Poderes.
Na visão de Bolsonaro, não houve tentativa de golpe.
Segundo ele, não havia armas, apoio institucional nem emprego das Forças Armadas. Para reforçar o argumento, citou nomes de diferentes matizes políticas, como José Múcio, Nelson Jobim, Aldo Rebelo e José Sarney, que, segundo ele, também colocaram em dúvida a narrativa de tentativa de golpe.
Em outro momento do discurso, Bolsonaro resgatou sua trajetória até a Presidência da República e fez um aceno afetivo ao filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, a quem atribuiu papel decisivo na vitória de 2018.
“O marqueteiro Carlos Bolsonaro me colocou na Presidência da República, junto com outras pessoas, mas ele foi o cérebro.”
Sobre sua gestão durante a pandemia, disse ter comprado 600 mil doses de vacina contra a Covid-19, mas reafirmou sua decisão pessoal de não se imunizar.
“Por liberdade”, justificou.
Ao abordar a eleição de 2022, Bolsonaro voltou a levantar suspeitas sobre o processo eleitoral e a atuação da Justiça Eleitoral.
“A mão pesada do Tribunal Superior Eleitoral fez se valer na balança”, afirmou. Segundo ele, o mesmo tribunal que “fala em golpe” teria sido o responsável por colocar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em liberdade após anos de prisão.
Sobre a transição de governo, Bolsonaro afirmou que foi pacífica e elogiada até por Geraldo Alckmin. Mas fez questão de justificar sua ausência na cerimônia de posse do atual presidente.
“Jamais eu passaria a faixa para um ladrão”, exclamou.
O ato na Avenida Paulista deixou claro que, mesmo fora da corrida eleitoral até 2030, Bolsonaro mantém fôlego político. Para seus seguidores, é ele quem ainda dá o tom da oposição e traça os próximos passos da direita brasileira — ainda que não precise, como ele mesmo fez questão de frisar, sentar novamente na cadeira de presidente.