Por que a influência da China sobre os portos globais tem gerado preocupação

WASHINGTON – Foi uma mensagem de Natal que ninguém esperava.

Em 25 de dezembro, o presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump foi à sua plataforma de mídia social, a Truth Social, para desejar um “Feliz Natal a todos, inclusive aos maravilhosos soldados da China, que estão amorosamente, mas ilegalmente, operando o Canal do Panamá“.

A afirmação de Trump é falsa. O Canal do Panamá é operado por uma agência do governo panamenho, não por soldados chineses. Em uma coletiva de imprensa, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, contestou as declarações de Trump, dizendo que “não havia chineses no canal” além daqueles em navios em trânsito ou no centro de visitantes.

“Não há absolutamente nenhuma interferência ou participação chinesa em nada que tenha a ver com o Canal do Panamá”, disse Mulino.

Embora a afirmação de Trump seja imprecisa, a crescente influência das empresas chinesas e do governo chinês sobre o transporte marítimo e os portos globais, incluindo o Canal do Panamá, tornou-se uma preocupação para as autoridades americanas.

O governo chinês investiu pesadamente na construção de portos em todo o mundo. E como a China é o maior exportador global, as empresas privadas chinesas agora desempenham um papel importante nas operações de transporte marítimo e portuário, o que lhes dá uma influência significativa sobre o movimento de mercadorias globais e posições estratégicas para monitorar as atividades de outros países.

Brian Hughes, porta-voz da equipe de transição Trump-Vance, disse em um comunicado que “o controle chinês do Canal do Panamá representa absolutamente uma ameaça à segurança nacional dos EUA”.

Ele apontou para o testemunho no Congresso, no ano passado, da general Laura J. Richardson, chefe do Comando Sul dos EUA, de que os investimentos chineses em infraestrutura servem como “pontos de acesso futuro de múltiplos domínios” para os militares chineses.

O Canal do Panamá foi construído pelos Estados Unidos no início do século XX, mas foi devolvido ao governo panamenho em 1999, nos termos de um acordo firmado anteriormente pelo presidente Jimmy Carter. Essa decisão tem sido uma fonte de consternação para alguns republicanos, incluindo o sucessor de Carter, o presidente Ronald Reagan.

Grande parte da preocupação das autoridades dos EUA em tempos mais recentes está centrada em dois portos marítimos em cada extremidade do Canal do Panamá, um canal pelo qual 40% do tráfego de contêineres dos EUA passa. Esses portos marítimos são operados há décadas pela Hutchison Ports PPC, uma divisão da CK Hutchison Holdings, uma empresa com sede em Hong Kong.

A CK Hutchison é um conglomerado de capital aberto cujo maior proprietário é uma família de bilionários de Hong Kong, e não o governo chinês. No entanto, Pequim estendeu suas leis de segurança nacional a Hong Kong, e o governo chinês recentemente demonstrou disposição para transformar as cadeias de suprimentos em “armas” (algo que Pequim também acusa os Estados Unidos de fazer).

Com isso, as autoridades americanas de ambos os lados do corredor estão cada vez mais preocupadas com a possibilidade de o governo chinês exercer influência sobre empresas privadas para interromper remessas comerciais e militares em tempos de guerra.

Em uma audiência no Congresso em maio, Raja Krishnamoorthi, de Illinois, o membro democrata do Comitê da Câmara sobre a China, questionou um especialista que estava testemunhando perante o Congresso sobre a possibilidade de o governo chinês exercer controle sobre os portos panamenhos para atrasar as remessas dos EUA, por exemplo, no caso de um conflito sobre Taiwan.

“Compartilho da sua preocupação”, disse-lhe Daniel Runde, vice-presidente sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank de Washington. Runde disse que o governo do Panamá controla todo o canal, mas que, em um mundo ideal, as empresas controladas por Hong Kong não estariam administrando os portos próximos a eles.

Um relatório recente da Strategy Risks, uma empresa de análise, disse que não foram encontrados vínculos diretos específicos com o Panamá entre a CK Hutchison e o Partido Comunista Chinês, mas que o envolvimento da empresa na administração dos portos do Canal do Panamá levantou preocupações de segurança devido aos vínculos de sua matriz com a China. Como uma empresa de Hong Kong, a CK Hutchison está sujeita à jurisdição chinesa – incluindo leis que podem exigir que as empresas ajudem na coleta de informações de inteligência ou em operações militares – e cooperou com várias entidades ligadas ao Estado chinês em projetos comerciais, segundo o relatório.

Os registros corporativos obtidos por meio da Wirescreen, uma plataforma de dados, mostram que, por meio de uma rede de subsidiárias, a CK Hutchison é coproprietária de uma joint venture imobiliária com a Aviation Industry Corp. of China, uma das maiores empresas de defesa da China.

A CK Hutchison e a Hutchison Ports não responderam aos pedidos de comentários.

A presença de empresas chinesas perto do porto no Panamá não é única. A CK Hutchison é uma das maiores empresas portuárias do mundo, operando 53 portos em 24 países, incluindo a Holanda, o Reino Unido, Hong Kong e Austrália.

Michael R. Wessel, que foi membro da Comissão de Revisão Econômica e de Segurança EUA-China, uma agência governamental que examinou a questão da segurança portuária, disse que a influência sobre os portos era importante por vários motivos, incluindo a influência política e econômica e o potencial de vigilância.

Noventa por cento da carga militar dos EUA é transportada por navios comerciais, disse ele, o que dá aos operadores portuários uma visão quando o governo intensifica as operações em determinados locais. A propriedade do porto também pode fornecer pistas sobre como o governo dos EUA examina a carga em busca de riscos à segurança, o que poderia facilitar a evasão desses esforços, disse Wessel.

“Ser um operador de porto ou terminal lhe dá a capacidade de acessar ou ter conhecimento do que o governo dos EUA está procurando, quais contêineres podem ser alvo de avaliação extra”, disse ele.

A crescente abertura do Panamá para a China nos últimos anos ajudou a alimentar as preocupações dos Estados Unidos sobre a influência de Pequim. Em 2017, o Panamá cortou seus laços diplomáticos com Taiwan, reconhecendo a região como parte da China. No ano seguinte, o Panamá se tornou o primeiro país latino-americano a aderir ao programa de infraestrutura global da China, a Iniciativa Cinturão e Rota.

Mas, desde então, tem havido uma apreensão crescente no Panamá sobre a aceleração dos fluxos de comércio e investimento da China, disse Jason Marczak, especialista em América Latina do Atlantic Council, um think tank de Washington.

O Panamá fez uma parceria com os Estados Unidos para expandir seu setor de chips. E desde que o governo de Mulino assumiu o cargo no ano passado, o Panamá tem sido inequívoco em seu desejo de aprofundar os laços com os Estados Unidos e de se alinhar de forma mais ampla com os objetivos da política externa dos EUA, disse Marczak.

“Uma dependência excessiva da China é algo que os panamenhos querem evitar”, disse ele.

Liu Pengyu, porta-voz da Embaixada da China em Washington, disse que a China há muito tempo apoia a soberania do Panamá sobre o canal e o reconhece como uma hidrovia internacional permanentemente neutra.

Mesmo que os Estados Unidos recuperem o controle do canal – uma perspectiva difícil, pois os tratados que o transferem foram ratificados pelo Senado dos EUA – isso não mudaria o fato de que uma empresa de propriedade chinesa controla os portos em ambas as extremidades.

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A Secretaria da Justiça (Sejus) adquiriu dez drones de última geração para ampliar o monitoramento e o apoio operacional nas unidades prisionais do Espírito Santo. Os equipamentos foram adquiridos por meio do Programa de Ampliação e Modernização do Sistema Prisional (Moderniza-ES), financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e vão desempenhar um papel estratégico no fortalecimento das ações da Polícia Penal do Estado, oferecendo uma visão aérea que ampliará a eficiência em operações e treinamentos.

Com o investimento da ordem de R$ 586 mil, os equipamentos com tecnologia de ponta vão ajudar a ampliar a eficiência da segurança, monitoramento, fiscalização e apoio logístico nas unidades prisionais. As aeronaves permitem vigilância aérea eficaz, com capacidade de cobrir áreas restritas e de difícil acesso, proporcionando maior agilidade e precisão nas operações de vigilância e monitoramento dos perímetros das unidades penitenciárias e eventuais ações de recaptura.

O secretário de Estado da Justiça, Rafael Pacheco, destacou que o investimento representa um passo importante na modernização e eficiência das ações da Polícia Penal no Estado.   “Estamos investindo em tecnologia de ponta para fortalecer o trabalho da Polícia Penal e otimizar as ações de segurança e inteligência prisional. Por meio do Moderniza-ES, seguimos ampliando e modernizando os serviços e projetos do sistema prisional capixaba. Essas iniciativas aumentam nosso poder de gestão e contribuem diretamente para a redução da violência no Espírito Santo”, ressaltou Rafael Pacheco.

Capacitação

Para capacitar os operadores dos novos drones, a Academia da Polícia Penal (Acadeppen) iniciou neste mês mais um treinamento voltado para a formação continuada de pilotos do equipamento. Ao todo, 46 policiais penais recebem capacitação técnica.

Com os equipamentos, modelo Matrice 30T, será possível ampliar as ações operacionais e de inteligência no sistema prisional, como o monitoramento das saídas e entradas dos custodiados nas unidades prisionais, o acompanhamento aéreo dos locais de banho de sol, bem como reforçar o trabalho realizado pelo serviço de inteligência prisional.

Os novos drones têm câmera térmica capaz de visualizar e medir a radiação infravermelha, emitida por corpos ou objetos, convertendo-a em imagens com cores que indicam diferentes temperaturas, recurso que auxilia o operador de segurança também nas missões noturnas.

O equipamento tem autonomia de voo de 41 minutos, com uma distância de transmissão de 15 quilômetros, além de sistema de detecção de obstáculos capaz de auxiliar o piloto na navegação. Além disso, tem quatro câmeras com diferentes tecnologias de zoom e captura de imagem.

A Câmara dos Deputados decidiu nesta quarta-feira (15) suspender a ação penal que corria no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado Gustavo Gayer (PL-GO). O pedido partiu do próprio PL e foi aprovado por 268 votos a favor, 167 contrários e quatro abstenções.

A decisão, oficializada pela Resolução nº 30/25, será comunicada ao Supremo. O parecer do relator, deputado Zé Haroldo Cathedral (PSD-RR), já havia recebido aval da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e acabou mantido pelo plenário.

O processo contra Gayer foi movido pelo senador licenciado Vanderlan Cardoso (GO), que o acusa de injúria, calúnia e difamação. A ação tem como origem um vídeo publicado nas redes sociais, em fevereiro de 2023, no qual o deputado criticava o resultado da eleição para a Mesa do Senado e fez comentários sobre o próprio Vanderlan e o STF.

O caso está sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes e se encontra na fase final das alegações.

Em seu relatório, Cathedral afirmou não ver elementos que sustentem as acusações de calúnia e difamação, acompanhando as conclusões da Polícia Federal.

“Subscrevemos as conclusões da Polícia Federal e concluímos que o mais adequado seria o não recebimento da queixa-crime relativamente a esses crimes”, disse o relator.

Ele reconheceu, porém, que as falas de Gayer poderiam ser interpretadas como injúria, mas ponderou que é preciso levar em conta se a manifestação estava amparada pela inviolabilidade parlamentar prevista na Constituição.

Pelas regras constitucionais, a Câmara tem até 45 dias para decidir se autoriza o andamento da ação ou se a suspende enquanto durar o mandato. Durante esse período, o prazo de prescrição fica interrompido.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou nesta quarta-feira (15) que autorizou a CIA a conduzir operações secretas na Venezuela com o objetivo de enfraquecer, e, em última instância, derrubar, o presidente Nicolás Maduro. A decisão marca uma escalada clara na política norte-americana contra Caracas e já provoca repercussão internacional.

Segundo fontes ouvidas pela imprensa, a autorização faz parte de um conjunto de medidas que inclui pressão militar na região e ações de inteligência para desarticular redes de tráfico e, possivelmente, capturar líderes venezuelanos. As alternativas avaliadas vão desde operações encobertas até ações terrestres limitadas, planejadas para pressionar o regime sem uma invasão em larga escala.

A Casa Branca justificou a medida com dois objetivos práticos: conter o fluxo de drogas provenientes da Venezuela e reagir a episódios recentes de prisioneiros que, segundo o governo americano, cruzaram a fronteira para os EUA. O movimento ocorre enquanto a presença militar norte-americana no sul do Caribe se mantém visível, incluindo ataques a embarcações suspeitas de tráfico, gerando debates sobre legalidade e transparência.

Fontes afirmam que a autorização dá à CIA liberdade para atuar sozinha ou em conjunto com forças militares, coordenada pelo Estado-Maior Conjunto. Entre os defensores da ação estão membros da ala mais dura do governo e o secretário de Estado, Marco Rubio. Detalhes operacionais, no entanto, permanecem em sigilo, alimentando críticas no Congresso sobre supervisão e prestação de contas.

A reação internacional foi imediata. Caracas classificou a medida como uma agressão direta à soberania venezuelana, mobilizando tropas e milícias, enquanto analistas e governos da região passam a avaliar os riscos de uma escalada militar e os possíveis impactos humanitários de uma operação que combina ações encobertas, pressão política e presença naval.

A confirmação pública de Trump, incomum para operações secretas, muda a dinâmica política: abre debates sobre limites legais, supervisão do Congresso e os riscos de um conflito regional. Mais do que uma ação isolada, a medida sinaliza que os EUA estão dispostos a usar ferramentas não convencionais para atingir objetivos de política externa, com efeitos incertos para a estabilidade hemisférica.

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